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A mostrar mensagens de setembro, 2017

Um homem do Renascimento, raríssimo, até no Jornal de Letras!

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Já há um ror de tempo que não comprava o Jornal de Letras, Artes e Ideias. Ordinariamente, leio-o de fugida, na biblioteca municipal, com uma ou duas paragens entediadas numa página, num título, numa nota de livros saídos e vou sentindo-o, com uma ou outra nobre e pobre excepção, cada vez mais chato e cinzento, repetitivo e sensaborão, demasiado institucional, eivado e uivado dos amores e ódios do sr. José Carlos de Vasconcelos, que fez uma das maiores filhas-da-putice recentes do mesquinho e invejoso meio (literário) português: ignorou, propositadamente, a morte de um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Baptista-Bastos, muito da casa literário-linguística de Óscar Lopes, dando-lhe apenas uma nota (mal escrita, e cheia de gralhas) como qualquer fait-divers. Foi precisamente pela homenagem a Óscar Lopes, que nada tinha de sectário e mesquinho, como é próprio de um grande humanista universal (“um homem do Renascimento” chama-lhe Isabel Duarte, no ensaio pessoal, q

Só as minhas faltas me pertencem

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Foi o que de mais feliz me aconteceu anteontem, na livraria-café que combate coolmente todos os domingos para o caneco: a página 42 de Um outro, Crónica de uma Metamorfose, de Imre Kertész traduzido por Ernesto Rodrigues. Grato copião, copio-lhe um parágrafo para o meu bloco NAVA (Notes Everything) a abarrotar de letras e de tretas: “K., o escritor, fez uma lista de todos os seus bens. «Só as minhas faltas me pertencem», - escreveu, seguidamente, no fundo da página, aliás, toda rabiscada com números de telefone.” Está aqui tudo. Não preciso de mais nada. E não tenho. 

Olha um

Muitas vezes, pequenos-burgueses passivos com medo da própria sombra, achamos que os psicopatas andam por aí nas sombras e nas esquinas, virtuais ou físicas, escondidos, à coca, esperando a melhor chance para raptarem as nossas crianças, para violarem as nossas mulheres, para nos fazerem mal de todas as formas e feitios (vemos muitos, muitos, filmes de terror). Certamente, há desses psicopatas. Que os há, há. Contudo, os maiores psicopatas estão, hoje, à vista de todos, nas “redes sociais”, no Twitter, na televisão, às escâncaras, são presidentes, CEO's, maiorais, tiranos de países e de cidades, ou tiranetes de loja de shopping, deputados e parlamentares, bem-falantes e parlapatões, postos lá pelos povos ou impossíveis de lá tirar pelas mesmas gentes. Até os escolhemos para os temermos masoquistamente ou gozarmos com eles, porque os queremos, no fundo, no fundo, ou por não termos, de facto, alternativas (do mal, o mais). Votamos neles, mas temos às vezes de desligar a televisão ou

Torquato

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Torquato é o recepcionista da biblioteca pública que frequento muito, eu no Porto como David Bowie em Berlim (que bela comparação para texto curto!). Pois lembro-me agora que Wendy Leigh, na sua biografia sentimental desse Lázaro cantante e exaltante , livrinho que folheei há um ror de tempo na Fnac ( a extensão da sigla é Fédération Nationale d'Achats des Cadres, mas o sítio é quelque chose onde quase nada compro, muito menos quadros, minha Santa Rita bendita! ), conta que o músico estava sempre metido na biblioteca nos seus dias de mendigo em Berlim. Isto devia estar aqui entre parêntesis rectos só para não esquecer por toda a eternidade. Enfim, penso que Torquato é um bom nome para personagem de um conto que posso escrever um dia destes. P.S. Ah, esqueci-me de pensar que, desde pra'í Torquato Tasso, nunca mais apareceram Torquatos, não no mundo, nas bibliotecas. A propósito deixo aqui a cara do gajo, do clássico, que deixa tudo isto um poucochinho melhor.