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A mostrar mensagens de abril, 2020

EVT, neto, avô

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Tenho uma especial ternura de neto por esta estante (mal) feita nas aulas de EVT do 9.º ano. Como tenho uma especial ternura de avô pelos (mal feitos) livros de bolso Europa-América. Com muitas saudades da minha avó, sonho agora ser já avô. E, até ao fim, viverei assim. Só um avô que lê os livros de Bolso Europa-América tirados da estante que fez enquanto neto nas aulas de EVT do 9.º ano.

Uma cidade

Uma cidade pode ser apenas um rio, uma torre, uma rua com varandas de sal e gerânios de espuma. Pode ser um cacho de uvas numa garrafa, uma bandeira azul e branca, um cavalo de crinas de algodão, esporas de água e flancos de granito. Uma cidade pode ser o nome dum país, dum cais, um porto, um barco de andorinhas e gaivotas ancoradas na areia. E pode ser um arco-íris à janela, um manjerico de sol, um beijo de magnólias ao crepúsculo, um balão aceso numa noite de Junho. Uma cidade pode ser um coração, um punho. Albano Martins, "Uma cidade" (do livro  Castália e Outros Poemas, Campo das Letras, Porto, 2001) in Ao Porto (Colectânea de Poesia sobre o Porto) , org. de Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira, Publicações Dom Quixote Lisboa, 2001. 

A solidão dos pombos

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Sinto compaixão pelos pombos. Ia usar a palavra pena mas substituía por compaixão. Dizer "tenho pena" aparenta sempre um arzinho de superioridade em relação ao outro. Como se fôssemos superiores seja ao que for! Anda por aí um microorganismo invisível e estamos todos cagadinhos de medo. Compaixão é mais de igual para igual: é sofrer com, é amar com. Sofro com estes pombos. E nem quero olhá-los ou fotografá-los mais para não sofrer em demasia. Não tenho nem um niquinho da sua elegância na miséria, da sua coragem, resistência e resiliência de agentes voadores. Mas andam perdidos por estes dias vazios e pandémicos. Não entendem o que se passa na cidade. Não entendem por que não há gente a andar na rua, gente nos Jardins do Palácio de Cristal ou na Praça da República, gente sentada nos bancos do jardim a comer, a namorar, a dormir ao sol, a ler o jornal ou a mexer e tirar selfies com o smartphone . Acho que estão mais magros e com aspecto carente e doentio. São mais ferozme