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A mostrar mensagens de janeiro, 2020

Sem título

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Tenho um defeito (que pode também ser qualidade), como quase todos os seres humanos o têm (mesmo que o neguem da boca para fora), que é, sobretudo em fase de luto, entrar num período de forte negação e/ou alheamento. Negar que aquilo aconteceu, alhear-me daquela pessoa, daquele animal, daquele ânimo, espírito ou daquela realidade passada ou presente. Não significa isto ausência de sentimento: amor ou ódio. Significa não sei o quê, significa fumo, qualquer coisa como uma obra de Noronha da Costa, ou eu sem óculos. Este período pode ser composto de mudança, mas pode durar um ano, vinte, uma vida. É o que sinto que está acontecendo entre mim e o Brasil. Mas alhear-me do Brasil, negá-lo, desligar do Brasil (e de tudo o que lá aconteceu ou acontece), para não sofrer ou enfrentar, não é negar uma parte da minha vida, e assim negar por completo a minha vida? Na imagem: Reprodução de obra de Noronha da Costa, Sem título , Tinta celulósica sobre tela.

Sem Wifi no Cemitério da Lapa. Mas eis longe, ao longe...

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Num mortiço domingo de Janeiro, entro pela primeira vez no Cemitério da Lapa. Não foi a primeira e última. E espero bem que não seja a última! ;)  Entro, assim como quem não quer a coisa, para ver se encontro a última morada do poeta Soares de Passos, o famoso autor d''O Noivado do Sepulcro'. «Que paz tranquila!...» Não fui para casar com ele, digo desde já. Ainda não estou assim tão desesperado e zangado com o mundo dos vivos. Tentei, assim como quem não quer a coisa, aceder à rede Wifi Porto Digital para tentar ajuda para encontrar a casa eterna do romântico vate. Não há rede. Só duas redes Vodafone detecta o smartphone. De que espíritos serão? Não me interessa. Começo a estugar o passo de volta rumo ao portão de saída porque começo a sentir qualquer coisa estranha dentro e fora de mim. Sinto qualquer World Wide Web vinda não sei bem de onde. «Que paz tranquila... mas eis longe, ao longe/ Funérea campa com fragor rangeu; Branco fantasma semelhante a um monge,/D

História do Futuro

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É muito difícil e muito duro começar tudo de novo numa terra, num corpo, que carrega o passado como um peso morto.

Os hipócritas

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  «Toscano, que visitas O doloroso grémio dos hipócritas...» Dante Alighieri, Divina Comédia , Canto XXIII do Inferno , tradução de Fernanda Botelho Conheço-os pelo cheiro. Usam Hugo Boss mas metem nojo. E pela pose distingo-os. De resto, que mais têm além de pose? Nunca os vi rir com convicção. E chorar jamais. «Só os maricas choram. Os fracos.» Fizeram manifestações em favor do "Ultramar" e estiveram a cantar Abril. «E hoje o que era preciso era um novo Salazar para pôr isto na ordem!» Dão uma no cravo e outra na ferradura, precisamente. Dizem-se “pra frentex” mas esqueceram-se de limpar tantas e tantas teias de aranha escondidas. Foram comunistas e perigosos esquerdistas, maoístas, até começarem a carreira, com 25 anos, e a maior parte muito, muito antes. Vão para o engate à sexta à noite mas não perdem a missinha ao domingo. Não vá o diabo tecê-las e perdem o mais importantezinho para a sua salvação: a herança dos papás, herança católica