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A mostrar mensagens de julho, 2020

A última alameda

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O homem só vive intensamente quando encara a morte de frente. Nelson Bandeira, Cemitério do Prado do Repouso, 27.7.2020. [Fotografia de Rodrigo do Carmo]

Cousa da terra

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E se eu me alienasse completamente? Se me despedisse do real, da guerra, não subindo ao céu, não evaporando, não me suicidando, mas descendo à terra,  viajando ao centro da terra, não chamando o Fernando, mas tocando terra, comendo terra,  gato cor de terra, na noite da terra sempre pardo, dormindo sobre e sob a terra, não escrevendo ao Armando,   mas sonhando sob um cobertor de terra e folhas de árvores caídas, e por minhas mãos puídas  ?????? Vivendo de minhocas, formigas, castanhas, girassóis, muitas batatas, couves e animais selvagens. Escrevendo poesia na terra e aforismos no verso das cascas das árvores. Corrigindo com sangue e apagando com cuspo cheio de terra. E se eu passasse a ser o louco da terra, passando a ser completamente irreal sobre a Terra, inapto para o mar e para o Iraque. Vivendo da real terra, do húmus total, até à cova também terrena que ao que parece é a cousa real mais irreal de todas as cousas, se eu p

in-definição

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sou um poeta, não sou um dicionário

Obrigado eu

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Quando, na noite mais escura, o desânimo me vence, abro um livro e encontro sem contar uma folhinha de árvore generosa. E emociono-me outra vez. Vejo o copo meio cheio, não é? ❤️ 

Obrigado

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Obrigado aos que me dão uma dica, Obrigado aos que me dão pica, Obrigado aos que me dão um olhar, Obrigado aos que me dão emoção, Obrigado aos que me ensinam a amar, Obrigado aos que me fazem sentir, Obrigado aos que me não deixam cair, Obrigado aos que me dão uma lição, Obrigado aos que me dão um pão, Obrigado aos que me dão Drummond, «aos que me dizem terno adeus, sem que lhes saiba os nomes seus», vos agradece humildemente de «gesto assim vário e divergente» este urbano traficante de poesia, «já subo aos céus, já volvo ao chão, pois tudo e nada nada são», E, claro, muito obrigado Drummond, que me dás toda esta ridente razão. [Com citações do outro poema Obrigado, de Carlos Drummond de Andrade, do livro «Viola de Bolso», de 1952] Nelson Bandeira, Porto, 9 de Julho de 2020

Poema à beira da estrada

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Para onde caminhas, caminhante? Passeias bandeira ou carregas cruz? Vais sozinho ou bem acompanhado de vários demónios? És vate, São Tiago ou louco? Homem ou asno perdido? Cavalo, lebre ou caracol? Peixinho banzado ou possível anzol? Lobo ou lince ibérico? Cria atacante, bela e medonha ou espécie em perigo de extinção? Ministro ou servo da gleba? Hóspede, convidado ou anfitrião? Amante escorraçado ou garanhão? Cigano feirante ou eremita ascético? És santo, lírico, ou maluco de todo, diz lá então? Ponto de exclamação, reticências... Palavra aberta ao futuro das ciências ou qualquer não-sei-quê de pouca gramática. Nelson Bandeira, 15 de Maio de 2020 [Fotografia de Nelson Bandeira, tirada a 4 de Julho de 2020]