Mensagens

Vou para a Biblioteca

Imagem
  A Biblioteca Pública Municipal do Porto irá encerrar para obras a 1 de Abril. E uma parte de mim também irá fechar para obras. Esta casa dos livros do Porto, foi, enfim, uma segunda casa durante mais 20 anos. Muita leitura de publicações periódicas do século XIX ao XXI, imensas requisições de documentos, centenas de fotocópias. Muitas boas horas extraordinárias (como o nome do blogue da Maria do Rosário Pedreira) de leitura na horizontal, na vertical e na diagonal de literatura hetero, bi e gay, portuguesa, brasileira, francesa, norte-americana. Pesquisas sobre questões linguísticas e jornalísticas, do aborto, LGBTQI+, poesia, literatura canónica e marginal, estudos literários, estudos portugueses, teoria da literatura, crítica literária, ensino do português, didáctica, maçonaria, política, literatura portuense e algarvia. Alguns dos muitos cá de casa: Heliodoro Salgado, Faustino Xavier de Novais (inesquecível trabalho de casa para uma aula de Brasileira do prof. Arnaldo Saraiva, ent

Ah! Minha Dinamene!

Imagem
          Hoje, belo dia de primavera e de poesia: os turistas mundiais que aportam e passam neste Porto, instagramers e instalados no sistema neoliberal, olham de soslaio, com estranheza e ar de superioridade moderninha, a mesa de esplanada do pobre poeta portuense com livros estranhos (como O Programa Minimalista de Noam Chomsky!) e objetos de escrita bastante analógica para o ar dos tempos.          No entanto, faço uma aposta.      Daqui a um bom par de anos, quando o escriba for um poeta lírico, i.é. , morto, rico e famoso, fazem-lhe uma estátua em frente à confeitaria, em frente ao Camões, ao lado da Dinamene, e sacam milhares de selfies com ele ( “Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste" ) . É a grande esperança para mim hoje, dia de primavera e poesia. Como diria o Super Camões a propósito da grande bebida do Grande Capital, Primeiro estranha-se, depois entranha-se .

Tu quoque, fili mei?

Imagem
      Sexta-feira, 15. Nos idos de Março de 2024, acertei em cinco muito bons livros por 1,50. 30 cêntimos de euro por O Retrato de Dorian Gray em excelente edição da Relógio d'Água. 3x5 =15. Hoje, desgraçadamente só hoje, podem cognominar-me o Brutus das pechinchas. Nelson Bandeira, 15 de Março de 2024

Forrado em papel de jornal

Imagem
Já me desapaixonei por tanta coisa.  Aliás, todas as semanas, todos os anos, todos os dias, me apaixono e perco a paixão por qualquer coisa, qualquer pessoa, um animal, um pássaro, um homem, uma mulher, uma imagem, um livro, um filme, uma música...  A paixão pelo jornalismo, mesmo com altos e baixos (como os gráficos das alterações climáticas), essa paixão continua intacta, é doença crónica - até ver, até deixar de ver, até deixar de ser, ser notícia de "fait divers", e ser levado em caixão embrulhado, forrado em papel de jornal. 📰🗞️ Nélson Bandeira, 19/8/2023 Na imagem, reprodução de «L'Homme au journal», 1928, óleo sobre tela, de René Magritte (1898-1967).

O declamador

Imagem
Sou declamador... Gosto mais de ler poesia em voz alta do que escrever poesia em silêncio. Sou pássaro lírico... Gosto mais de conversar... Gosto mais de palrar do que estar calado... Gosto de cantar no duche, a água é música... Gosto mais de amar num motel saboroso do que mandar recadinhos de paixão em parcos pedaços de papel nervoso. Gosto mais de estar com os outros do que comigo mesmo. Não tenho medo dos outros, tenho medo dos outros que estão em mim como se fosse poeta... Poema escrito ao lado de outro de Adília Lopes que recitei numa noite destas. Miguel Bandeira, Porto, 5-12/2020 Na imagem:    O   Declamador   de Kazimir Malevich, 1913, Museu de Teatro e Música de São Petersburgo.

Lura

Imagem
Neste Tê Um, com papéis e Te Deum entro, meu lar , minha lura , meu parvo antro . Nele, entretanto, me conforto e me confronto, em cantos, portas, pratos, remendo, remonto. Quem é? Sou raro rato, sonho-me lobo , muito declamo, muito reclamo; cova cavo. Falha-me vocabulário; tenho boca, uivo.   Ladrão, lecciono, colecciono, almejo voo .   De Janeiro a Outubro, à socapa, salto Setembro, fujo e caço, lanço a soma para as calendas. Espero do nada, de um deus, mor prebendas.   Já em Novembro, farto, reúno uivos e vários voos; queda ignaro lar , mais lura , lamento, leio uma ova!  Niño , sempre sendo lobo , poluto bicho até à cova …   Nélson Bandeira, Sábado, Biblioteca Almeida Garrett, 17 de Junho de 2022, 36.º aniversário de Kendrick Lamar.  Na imagem :  reprodução de obra de Carl Spitzweg, O rato de biblioteca , cerca de 1850. [Texto escrito a partir de seis palavras criadas a partir da palavra vocabulário , como exercício, no âmbito do Curso Breve Os Modos da Poesia , acontecido

Museu de Arte Contemporânea (Serralves, Novembro de 2022)

Imagem
Branco envolvendo céu, erva, livros, árvores, folhetos de exposições. Branco destacando este domingo de Novembro, homens bonitos e mulheres elegantes, crianças brincalhonas, e a toda a volta delas enorme escultura de Rui Chafes. Por conseguinte, o branco muito branco do museu só é cor com o múltiplo padrão das muitas pessoas suas contemporâneas. Nelson Bandeira, 6/7-11-2022