Lura
Neste Tê Um, com papéis e Te Deum entro,
meu lar, minha lura, meu parvo antro.
Nele, entretanto, me conforto e me confronto,
em cantos, portas, pratos, remendo, remonto.
Quem é? Sou raro rato, sonho-me lobo,
muito declamo, muito reclamo; cova cavo.
Falha-me vocabulário; tenho boca, uivo.
Ladrão, lecciono, colecciono, almejo voo.
De Janeiro a Outubro, à socapa, salto Setembro,
fujo e caço, lanço a soma para as calendas.
Espero do nada, de um deus, mor prebendas.
Já em Novembro, farto, reúno uivos e vários voos;
queda ignaro lar, mais lura, lamento, leio uma ova!
Niño, sempre sendo lobo, poluto bicho até à cova…
Nélson Bandeira, Sábado, Biblioteca Almeida Garrett, 17 de Junho de 2022, 36.º aniversário de Kendrick Lamar.
Na imagem: reprodução de obra de Carl Spitzweg, O rato de biblioteca, cerca de 1850.
[Texto escrito a partir de seis palavras criadas a partir da palavra vocabulário, como exercício, no âmbito do Curso Breve Os Modos da Poesia, acontecido todas as segundas-feiras de Junho de 2023, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, sob orientação do poeta, escritor e tradutor Daniel Jonas]
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